quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Cinema: Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, 1971)

Cinema é uma paixão para mim. Quer me convidar para alguma coisa? Me convide para ir ao cinema. Nada substitui este pequeno prazer que é sentar em uma poltrona acolchoada, com pipoca do seu lado é uma tela 14m x 21 m na sua frente. E quem gosta de alguma coisa sempre tem uma opinião sobre a mesma, mesmo não sendo ela do quilate de um Rubens Ewald Filho.
Dentre os filmes que vi recentemente chama atenção uma obra-prima e figura certa nas listas dos 1000, 100, 10 filmes que você deve ver antes de morrer: “Laranja Mecânica”.
Sou suspeito para falar sobre um filme dirigido por Kubrick, uma vez que sou fã confesso desse gênio, mas sei que a crítica especializada concorda comigo ao dizer que este foi, provavelmente, seu melhor filme.
Passada em uma Londres num futuro incerto e decrépito, o perfeccionista Kubrick cria aqui uma sátira que explora a violência intrínseca da natureza humana, na maioria oculta e adormecida; regada a humor negro e a ironia.















O anti-herói da história é Alex de Large (Malcolm McDowell) um dos personagens mais marcantes da história do cinema. Viciado em leite drogado (Moloko), Alex espanca, estupra, rouba e mata unicamente por diversão, no que ele chama de “ultra-violência”; em suma é um jovem cínico e cruel, apaixonado por Beethoven. Há uma cena, no inicio em que ele mais seus “drugues” retornam para a “boate” que serve Moloko logo após um estupro; não muito tempo depois uma mulher começa a cantar uma ária da 9ª sinfonia de Beethoven (Ode a Alegria); o sorriso desbocado e o olhar de Alex naquele momento me deram arrepios. Aliás, olhar intimidador e o sorriso cínico desse personagem ao som de clássicos como Beethoven e Rossini é a jóia da coroa desse filme tamanha é a capacidade que este recurso tem de perturbar qualquer um que o assista: o belo e o medonho lado a lado.
Há uma parte no meio do filme, que eu diria à la Foulcault se a obra não fosse mais antiga, em que Kubrick faz uma crítica a solução que a sociedade dá aos seus deliquentes, que consiste basicamente em jogá-los na prisão e deixá-los lá, semi-esquecidos. Todavia, ao contrário do supracitado escritos francês, o diretor não dá uma solução real, ao contrário. Nos apresentando o "Método Ludovico" (um tratamento no mínimo cruel que faz com que a pessoa fique totalmente indefesa com relação a violência do mundo, inclusive se for necessária auto-defesa) ele deseja questionar até aonde podemos ceder em nossas liberdades em prol do bem comum? Como disse um dos personagens “Quando um homem não pode escolher, deixa de ser homem”. Tomando um gancho nesta questão no fim do filme Alex reencontra suas antigas vítimas, havendo aqui uma brilhante comparação o entre os atos atrozes cometidos por Alex pré-tratamento e os das vítimas (simbolizando a sociedade) em relação ao seu passado sujo - uma verdadeira vendeta.
O baixo orçamento do filme contrasta com sua altíssima qualidade e que ninguém pode perder. Chocante, assustador e profundamente reflexivo; o melhor de Kubrick.

Erídamo E. d'Aquila

Um comentário:

  1. Eu não sou um dos maiores cinéfilos, portanto não tenho das maiores autoridades pra tratar do assunto. Meu conhecimento cinematográfico tem muitos quês holywoodianos. Talvez isso faça de mim pior,talvez não. No fim das contas, pelo que me parece o filme tem um bom tom, mistura o bom e o ruim interessantemente. Nada me agradam filmes e literaturas nos quais a visão maniqueísta é predominante...Por fim o filme é uma boa pedida,para essse finalzinho de férias que nos reservam.

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